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Tintas e argila. Sonhos e possibilidades

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O cenário é inspirador. Uma mesa extensa cercada por crianças e adolescentes, ao ar livre, onde paira uma vontade imensa de aprender. Os olhos revelam imensa curiosidade diante dos copinhos com tintas e da argila. Os ouvidos estão atentos ao mundo de informações novas e estimuladoras. As mãos denunciam uma ansiedade latente para explorar os materiais que estão sobre a mesa e, assim, projetar todos os sentimentos que não cabem mais no peito. Os corações, por sua vez, aguardavam apenas aquela oportunidade, desenhada com traços fortes de entusiasmo, para expressar toda sua grandeza e seus mais coloridos sonhos.

Ainda bem que os caravaneiros Gustavo Nénão e Valéria Pinheiro se encontraram pelos caminhos da vida para, juntos, dar asas aos múltiplos talentos dos jovens acolhidos pela Fraternidade sem Fronteiras e, com eles, descortinar um novo mundo de possibilidades – o da arte!

Durante a caravana de maio, Gustavo, que é grafiteiro em São Paulo, e Valéria, artista plástica e tatuadora no Rio Grande do Sul, realizaram oficinas artísticas com jovens de 12 a 17 anos nas aldeias de Muzumuia e Barragem, em Moçambique. Deixaram também a marca de seus trabalhos em paredes das duas aldeias.

Os artistas se conheceram no I Encontro da Fraternidade sem Fronteiras, realizado em março, em Campinas, e, a partir de então, começaram a conversar pelo whatsapp sobre o que poderiam trabalhar com as crianças. “A ideia era agregar as nossas experiências para que os momentos fossem ricos para eles, com o máximo de informações, já que tínhamos pouco tempo e muitos jovens. Buscamos, desde o início, mostrar que eles eram os artistas, que música e dança, coisas que eles fazem muito bem, são arte e, principalmente, trabalhar a autoestima do grupo”, explicam os caravaneiros e padrinhos.

Por meio de aulas teóricas e práticas, os voluntários exploraram o conceito de arte, traçaram a evolução história das expressões artísticas, revelando onde e quando tudo começou, até chegar à arte contemporânea, e, ainda, indicaram onde a arte pode ser aplicada nos dias de hoje.

Os jovens utilizaram lápis, spray, telas, argila e tinta acrílico para se expressar. O material foi providenciado, com antecedência, pela equipe que trabalha nos centros de acolhimento. Segundo os professores, nem mesmo a limitação de qualidade e variedade de materiais, que em um primeiro momento apresentou-se como uma dificuldade, conseguiu ofuscar o talento dos alunos. “Sentimos um orgulho ainda maior ao ver o resultado obtido com tantas restrições de materiais”.

Nénão conta que, no início da atividade, ficou incomodado com o fato de os participantes responderem apenas “sim” às perguntas feitas por ele, o que o levou a conduzir o trabalho de outra forma. “Eu pensava: ‘isso está errado. A arte liberta! Não quero eles respondendo como robôs. Quero eles pensando!'”

A partir daí, começou a formular perguntas, que levaram os jovens a refletir e a produzir respostas genuínas. “Aí a oficina deslanchou. Perguntava coisas específicas como ‘o que você quer ser quando crescer? O que é sentimento? Quem aqui faz arte? Por que?’. E, a cada resposta colocada e bem respondida, a pessoa que acertava ganhava um pirulito. Houve uma participação maravilhosa! (risos) Todo mundo queria responder!”.

Sobre a importância da arte para as crianças de Moçambique, Valéria acredita que ela apresente aos jovens um novo mundo e possa mudar realidades. “Ela tem o papel de despertar, faz crer que existe algo a mais, uma magia fora de cada aldeia. Somos movidos por estímulos e desafios, e essa vontade de superação a gente viu com clareza nos olhos de cada um ali”, orgulha-se.

Grafites

A parceria entre Gustavo e Nénão também foi um sucesso na produção dos grafites. Os trabalhos realizados em Muzumuia e Barragem foram inspirados nas fotografias de outro caravaneiro, Felipe Torres. “Tivemos a dificuldade das cores, da qualidade da cobertura, o que precisou mudar um pouco a ideia original, mas nos adaptamos e o resultado foi perfeito. Acho que não poderia ter sido melhor”, acredita Nénão.

O sentimento que fica para os caravaneiros, depois dos momentos coloridos e moldados pela arte, é o de gratidão. “Sou muito grata a Deus por me dar a oportunidade de compartilhar um pouquinho de conhecimento com eles”, expõe Valéria. Gustavo também se diz agradecido à Fraternidade sem Fronteiras e feliz por ver pessoas lutando por um mundo melhor, mais justo. “As crianças das quais cuidamos hoje vão cuidar dos nossos filhos amanhã”.

O resultado do trabalho foi tão proveitoso que Valéria planeja voltar em agosto a Moçambique, para dar continuidade ao projeto “Arte sem Fronteiras” e envolver crianças de outras aldeias. A artista, que estava com uma exposição marcada no Museu do Vaticano, em Roma, na semana seguinte à viagem da caravana, aproveitou para levar à “Mostra Artisti Brasiliani, Argentini, Portoghesi e Italiani” as telas pintadas pelas crianças, expondo-as junto à sua série “Crianças Africanas”.

Daqui, ficamos na torcida para que fraternidade e arte continuem a caminhar juntas e a colorir uma aquarela de mudanças e novas perspectivas para as crianças moçambicanas.

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