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Projeto pedagógico em Muzumuia

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Professora há 34 anos, Silvia estudou e compreendeu a realidade das famílias para então elaborar proposta pedagógica.

Enxergar a criança como um todo: um ser que precisa de alimento, mas também de cultura. Quando se presta assistência aos 730 africaninhos do centro de acolhimento de Muzumuia se pensa na educação, nos cuidados básicos e principalmente nos estímulos que eles tanto carecem em receber.

O trabalho de uma professora de Campo Grande (MS) foi além de criar diretrizes para a condução das atividades no centro. O “Projeto Pedagógico Piloto” da Fraternidade Sem Fronteiras respeitou a realidade local e foi pautado em cima de quem são os pequenos rostinhos que se alegram tanto ao entrar no centro de acolhimento.

Foram oito meses de pesquisa que incluíram duas idas da professora Silvia Tavares Farina até Muzumuia para conhecer como vivem as crianças e buscar elementos para a construção da proposta. Para que o projeto pedagógico criasse forma, Silvia precisou ter um “norte”, um guia que pudesse dirigir como, quando e por que cuidar daquela criança desta forma. Foi necessário também que a comunidade compreendesse o que é um “Projeto Político Pedagógico” e qual seria o benefício para a rotina do centro de acolhimento.

“É projeto porque reúne propostas de ação concreta a se executar, fortalecendo uma rotina, é político por ser o centro de acolhimento um espaço de formação de cidadãos que necessitam ser conscientes, responsáveis e críticos, pois atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir e é pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem fortalecendo o processo de construção do centro”, explica a professora.

Nas aldeias, ela conviveu com famílias extraindo tudo o que era da rotina das crianças. O trabalho também foi pautado na sensibilização dos monitores dos centros de acolhimento. “Eu perguntava: ‘vocês querem para as crianças o futuro que vocês estão tendo? Todo mundo quer fazer algo a mais”, contextualiza.

Para montar o projeto, Silvia ouviu colaboradores e pessoas ligadas direta ou indiretamente à ONG. “A cozinheira, o senhorzinho da portaria, eu fazia perguntas: ‘as pessoas demonstram amor umas às outras? Aqui na aldeia todo mundo tem água em casa?’ Como eu vou exigir uma coisa que as famílias não têm como dar?” se perguntava Silvia.

O trabalho parte do que eles têm, do que necessitam e onde querem chegar. “Precisa matar a fome, escovar os dentes, mas também precisa se tornar um aprendiz do mundo em que se vive. A criança então passa a ser um protagonista da vida e aquele que não tinha acesso à informação, passa a ter. Assim você vai ampliando os horizontes”, descreve a professora.

Os monitores do centro foram transformados, aos poucos, em educadores sociais, que aprenderam como replicar a vontade de aprender e criar uma rotina que englobe educação, cultura e brincadeiras, às crianças. O trabalho começou desde a limpeza da sala e como criar um ambiente harmonioso e alfabetizador.

As crianças foram divididas em faixas etárias de 2 a 3, 3 a 4 e 4 a 5 anos e os grupos levam nomes graciosos como “paz” e “amor”. No centro, eles têm atividades que trabalham o desenvolvimento moral e cívico, de linguagem, cognitivo e físico, além de inspirar a expressão musical e plástica.

Os conteúdos sugeridos para cada ano incluem na rotina a hora da história, teatro, artes, jogos, faz de conta, brincadeira e música, como forma de incentivar o gosto pela leitura, os trabalhos artísticos com argila ou massinha e a cantoria. “A criança do grupo Graça, por exemplo, sabe que vai chegar e vai ter a acolhida, o teatro, a história”, explica Silvia. A acolhida nada mais é do que o carinho sendo dado e ensinado. “É a prece, é a criança se sentir amada, respeitada e perceber que é querida naquele lugar e isso tem todo um mecanismo. Não é acolher por acolher. É acolher com uma finalidade”, ensina Silvia.

O projeto passou a ser aplicado em julho de 2016. Silvia o acompanha daqui, enquanto lá ele funciona aos olhos da coordenadora pedagógica Cesaltina Muchanga. Nascida em Maputo, é ela quem hoje treina as monitoras, ajuda no planejamento das atividades semanais e contrata, se for o caso, novos colaboradores. “A implantação do projeto político pedagógico foi e está sendo muito importante porque está trazendo melhorias na organização, no aprendizado. A criança já entende que não vem ao centro de acolhimento só para ter um prato de comida, mas sim também para aprender”, ressalta a coordenadora.

O projeto fez revelar talentos que são percebidos no desenho ou apresentação de uma peça teatral. “Para a criança da comunidade aqui em Moçambique, isso ajuda a ter a autoestima que antes não tinha e a desenvolver a criatividade”.

Projeto deu atenção especial a quem orienta às crianças e monitores estudaram toda proposta para colocar em prática.

Para quem acompanha o trabalho lá, resultado foi além de encantamento: trabalhou a autoestima das crianças.

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