O sistema foi instalado no Espaço Emergencial 13 de Setembro e é fruto de uma nova frente de trabalho: a sustentabilidade
Por Taemã Oliveira – assessoria de imprensa FSF Boa Vista – RR
O projeto Brasil, um coração que acolhe – da Organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras -, que atua desde outubro de 2017 no acolhimento a migrantes e refugiados venezuelanos em Roraima, iniciou neste mês de agosto, uma nova frente de trabalho: a sustentabilidade. O primeiro passo foi dado com a instalação do sistema de aquaponia – sistema sustentável de produção de alimentos, combinando aquicultura e hidroponia -, no Espaço Emergencial 13 de setembro.
O sistema de aquaponia é utilizado na criação e produção sustentável de pescados e plantas. Isso porque ele reaproveita a água e os resíduos, além de conseguir controlar vetores e pragas por se tratar de um ambiente fechado. E em relação ao sistema de irrigação tradicional, ele economiza em até 90% o desperdício de água.
A instalação do sistema ficou pronta depois de aproximadamente seis meses de trabalho com o envolvimento dos acolhidos responsáveis pela montagem da estrutura externa do projeto sustentável. Na inauguração, cerca de 20 crianças, adolescentes e adultos puderam entender melhor a serventia e o funcionamento do sistema, além de terem a oportunidade de colocar as sementes nas esponjas e posicioná-las nos copos.
Alguns dos acolhidos irão trabalhar de forma permanente com a manutenção do espaço. Entre eles, o Júlio César Bastardo, de 14 anos. “Eu aprendo bastante com essa atividade e quero ser arquiteto quando crescer. Quero estudar primeiro português e depois deixar esse legado para outros jovens que ainda estão por vir para o centro de acolhimento”, planeja o jovem que está em Boa Vista, há 3 meses, na companhia dos irmãos, mãe e o padrasto.
Por enquanto, o sistema é apenas um experimento, mas já serve como capacitação para os acolhidos, que receberam certificados de participação na implementação dessa modalidade sustentável de produção de peixes e de alimentos. Mas a longo prazo, a ideia é que o sistema seja também uma fonte alimentar da comunidade que vai poder consumir o pescado e as plantas da horta.
O engenheiro ambiental e o analista de Projetos Sustentáveis do projeto “Brasil, um coração que acolhe”, Mateus de Melo, montou o projeto e supervisionou todo o trabalho. “Os projetos sustentáveis têm o intuito de divulgar tecnologias que ainda não são muito conhecidas e os abrigos são um ótimo lugar para se fazer isso porque as pessoas são muito interessadas em aprender, pode vir a ser uma renda para eles”, explicou.
Como funciona uma Aquaponia?
O processo começa no tanque de peixes, onde até então estão sendo criados 15 tambaquis. Nele, os peixes liberam as fezes e a urina que são puramente amônia. Uma bomba instalada no tanque faz com que a água circule e que todos os resíduos sólidos se concentrem no centro do tanque. Um cano faz a sucção dos resíduos que são levados para o decantador.
Do decantador, os resíduos seguem para o reservatório, onde têm água e tijolos. Nos tijolos crescem bactérias em forma de algas e elas transformam a amônia da urina dos peixes em nitrito e depois nitrato, alimento para plantas. Esse reservatório também tem uma bomba que leva a água para a estrutura de canos, chamada de cama de plantas.
A água vai descendo por gravidade, irriga as plantas que estão dentro de copos plásticos com o fundo furado, depois passa por um filtro biológico e volta para o tanque.
Luís José Rausseo, de 53 anos, é um dos colaboradores na iniciativa. Ele tem dois filhos e está há oito meses em Boa Vista/RR. Para atravessar a fronteira entre Venezuela e Brasil, caminhou por 27 dias. Desempregado, ele vê na aquaponia uma oportunidade de capacitação para encontrar um emprego em Roraima.