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As faces do amor

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O que te motiva?

Essa foi a última pergunta para a médica de Família e Comunidade, voluntária da Fraternidade sem Fronteiras, Janaine Camargo de Oliveira. “Amor”, devolveu ela. A resposta, mesmo sendo esperada, não deixou de emocionar. Na mesma hora o apóstolo Paulo, e sua sabedoria sem tamanho, veio a mente: “E ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” 1 Coríntios 13:2

É por todo esse amor transbordante que se é capaz de entender um pouco da essência do trabalho realizado pela Fraternidade sem Fronteiras. Em fevereiro de 2018, mês passado, a ONG organizou uma caravana da saúde com profissionais de diferentes lugares do Brasil para a ilha de Madagascar, localizada no continente africano. Um lugar onde mais de 50% das crianças sofrem de desnutrição grave.

Madagascar é um dos países que mais sofre com a desnutrição, mas os casos graves que foram encontrados nessa última viagem impressionaram até os “mais preparados”. A nutricionista Claudete Chiappini, também voluntária da FSF, preparou meses antes uma dieta especialmente para esses casos. “A dieta é preparada à base de leite ou fórmula infantil, obtidos em campanha de doação no Brasil, contou Janaíne. Em fevereiro de 2018, a fórmula recebeu adição de polivitamínicos e mais 30 desnutridos gravíssimos foram inseridos no programa de realimentação com fórmula láctea.

Um deles foi Ângelo, um menino de 2 anos pesando 4,9 kg, diagnosticado com febre, dispneia, taquicardia e prostração. “No meu primeiro contato com o Ângelo, eu sinceramente acreditei que ele estava morto, mas ele lutou bravamente e quando sentimos isso tivemos esperança, por menor que fosse suas chances de recuperação”, contou Janaíne. Ângelo sobreviveu e com dois dias de tratamento já se mostrava mais firme e presente. “O amor que o sustentava encontrou espaço em nossos corações. Essa face do amor que preenche, alegra e cria, foi capaz de trazer ao nosso íntimo a consciência de não sermos indiferentes a nossos irmãos em humanidade”, explicou a médica. Hoje, duas semanas depois, Ângelo está bem, se alimentando, ganhando peso e sendo amado.

Nessa trajetória porém, nem sempre as coisas saem como desejamos, e no meio do caminho somos “obrigados” a enfrentar a outra face do amor, aquela que machuca, que fere e que dói. Tovomaro era uma criança de 1 ano e quatro meses que pesava 5,2kg, muito fraco e diagnosticado com Kwashiorkor-marasmático que são os termos usados para “que corre risco de vida” e “muito desnutrido”, respectivamente. “O Tovomaro chorava muito de fome, não conseguia mastigar e seu esôfago não tinha musculatura para conduzir o líquido alimentar, pois já não sabia deglutir”, contou também Janaine, que continua “Essa semana recebemos a notícia da morte do Tovomaro. Ele parte nos permitindo conhecer a face do amor que esvazia, devasta e destrói. Sob o olhar do amor por ele semeado, a dor se torna campo fértil e eu acredito que o sentimento de amor à humanidade, em suas superações e mazelas, já pode florescer”.

 

No meio de toda essa situação difícil e assustadora, os voluntários conseguem, através de corações dedicados, encontrarem nessas crianças e famílias a força para continuar o trabalho. “Esse projeto é uma oportunidade de mudança pessoal em primeiro lugar. É um encontro de almas. Não existe quem ajuda e quem recebe, somos todos iguais”, contou Janaine. “O primeiro passo para a mudança é quando a gente se reconhece no outro e isso é o que acaba nos mobilizando para algo maior”.

A desnutrição nesses casos não vem somente da falta de alimentação depois que nasce, mas também de toda a gestação da mãe, que por sofrer de desnutrição por si só, não tem nutrientes suficiente para o filho nem na barriga nem na amamentação, conforme explicou a Dr Angélica Bogatgky Ribeiro, coordenadora da caravana. “Nessa viagem fizemos diagnósticos mais profundos relacionados a desnutrição, por que nós costumávamos mandar as crianças em estado mais grave para o centro médico local, porém percebemos que nem todas elas conseguiam se recuperar devido a falta de cuidado maior no sistema de saúde deles”, contou a coordenadora.

Foi por isso que em poucos dias, toda a equipe se mobilizou e conseguiu montar um centro médico para atender até três crianças dentro do Campo da Paz, lugar onde está a base da Fraternidade sem Fronteiras.

DADOS MADAGASCAR

– A primeira unidade da Fraternidade sem Fronteiras em Ambovombe, Madagascar, inseriu mais de 300 crianças na escola e as recebe
diariamente para cuidados com a higiene.

– No Campo da Paz, a Fraternidade tem oferecido 1200 refeições para crianças e suas famílias no turno da manhã e mais 1200 no turno do início da tarde. O cardápio é balanceado e valoriza a alimentação local, mas ainda não supre todas as necessidades da população local, dada a grave situação alimentar na comunidade.

– A questão da água é uma necessidade grave. A principal causa de mortalidade no país ainda é a diarreia e a água disponível na região não é potável. A Fraternidade sem Fronteiras tem disponibilizado água para consumo, banho, fossas e lavagem de roupas diariamente no Campo da Paz. O processo de educação em saúde e para autocuidado em higiene já começou a ser trabalhado, mas ainda esbarra nas limitações da dificuldade de acesso à água e sanitários. A organização FSF está se organizando para perfuração de poço que possa fornecer água para a região.

– Diariamente, 140 crianças menores de 2 anos e 44 desnutridos graves recebem fórmulas de tratamento de realimentação em fases aguda na primeira semana e seguimento de 20 semanas na fase de manutenção.

– Durante a realização das caravanas, a FSF, por meio da arrecadação de doações, tem conseguido estruturar uma farmácia com as medicações necessárias para tratamento das doenças mais prevalentes, como lesões de pele, infecções respiratórias, parasitoses, doenças neurológicas e a própria desnutrição. Exames e internações são realizadas na rede de saúde local e custeadas pela ONG. Na caravana de fevereiro de 2018, dada a gravidade dos casos de desnutrição identificados, como não foi possível internação na rede local, o Centro de Saúde foi reorganizado para oferecer uma ala com três leitos para internação para o cuidado intensivo de desnutrição.

A caravana não leva apenas mantimentos e suplementos e volta trazendo dados e números preocupantes. A caravana leva amor e esperança para crianças e mães, às vezes desesperançosos com suas realidades.

O fato mais marcante dessa história é o poder curativo do amor e da compreensão do mundo em que se vive e do mundo em que se quer viver.
Para fazer a diferença basta entender que qualquer ato de amor, por menor que seja, consegue criar uma onda enorme no final das contas.
“Nosso trabalho é colocar um pequeno fogo no palheiro e deixar a comunidade seguir e se reerguer”, concluiu Janaine.
O que nos traz de volta às palavras do apóstolo Paulo: “agora pois, permanecem em fé, a esperança e o amor, destes três porém, o maior destes é o amor”
1 Coríntios 13:13

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